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domingo, 28 de junho de 2009

Um mergulho na Terra do Nunca


Quem nunca, por um dia ou até mais vezes desejou ser eternamente criança? Quem nunca teve vontade de aspirar o pó pirlimpimpim para sair voando? Ou visitar a Terra do Nunca, habitada por fadas, piratas e meninos perdidos? Certamente, muitos de nós já tivemos estas vontades.
Acredito que seja muito interessante as crianças terem contato com a história de James M. Barrie: Peter Pan. Entretanto, quando formos levá-la à sala de aula, seria mais rico levar a história original, ou alguma adaptação que não seja tão superficial. Pois há características de algumas personagens muito importantes para serem analisadas, como o ciúme de Sininho, e até o dilema de Peter Pan em deixar de ser criança para sempre, por ter se apaixonado por Wendy. Outros detalhes também poderiam ser levados em conta: será justo tirar uma criança do convívio familiar, como os meninos perdidos? Ou, analisar o olhar do pai em Wendy, por ela ser uma sonhadora e gostar histórias. Pois, de uma hora para outra, ele queria impor à menina a condição de “mocinha”. Como é essa passagem na vida de nossos jovens, principalmente, das adolescentes?
Também, poderíamos questionar a eles, como seria a Terra do Nunca, se seria um mundo repleto de fadas, natureza praticamente intocável? O que eles gostariam de acrescentar neste mundo? E a Sininho? Se ela é uma fada, não deveria ser boa e logo aceitar a nova amiga de Peter? Os seres humanos são completamente bons ou malvados? Quais poderes você gostaria de ter? Conforme diz a especialista em psicopedagogia, Andrea Pires Magnanelli, o resgate da magia da leitura dos contos de fadas pode não ser a solução dos problemas mundiais, mas podem atuar no inconsciente das crianças, fazendo-as compreenderem ou eliminarem os conflitos que possam estar passando no momento em que entram em contato com estas leituras.
E a grande fantasia da história: será que nossos alunos gostariam de ser crianças para sempre? Por quais razões? Quais as grandes diferenças de se ser um adulto e uma criança?
Para serem discutidas estas questões, acredito que seja primordial a escolha de uma boa tradução ou adaptação. Se possível, até haver uma comparação na leitura de mais de um texto sobre o mesmo conto. Basta observar a da Editora Brasileira, que foi muito superficial, pois apenas jogou ao lado das ilustrações alguns acontecimentos da história, sem qualquer aprofundamento das personagens.
Já uma adaptação que achei interessante foi a de Monteiro Lobato, pois temos a Dona Benta que a conta às crianças o livro em inglês que ela encomendara da Livraria de São Paulo. Inclusive, há a discussão das crianças sobre o livro e até a tradução de algumas palavras inglesas, como o quarto infantil, chamado de “nursery”. Há também alguns termos preconceituosos de Emília, em relação à tia Nastácia que podemos debater com os alunos, levando em conta que o texto foi produzido há décadas: Você só entende de cebolas e alhos e vinagres e toicinhos. Está claro que não poderia nunca ter visto uma fada porque elas não aparecem para gente preta. Eu, se fosse Peter Pan, enganava Wendy dizendo que uma fada morre sempre que vê uma negra beiçuda.” A própria adaptação poderia ter sido amenizada, mas não. E acabou sendo rica para uma análise com a turma. Assim como diz Magnanelli, não devemos mudar uma história, para ser “politicamente correto”, porque ele acaba perdendo muito de sua essência.