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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

EU ACUSO!!!

Senti-me na obrigação de incluir esta mensagem que recebi da professora Fátima, de Igor Pantuzza Wildmann (Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário).
Ela diz o seguinte...

J’ACUSE !!! (Eu acuso !)

(Tributo ao professor Kássio Vinícius Castro Gomes)

“Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice.”

(Émile Zola)

“Meu dever é falar, não quero ser cúmplice.”

(Émile Zola)


Foi uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito. Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente. (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que... estudar!).

A coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes. Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.

O professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos ambientes escolares.

Há uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de convivência supostamente democrática.

No início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis, pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”. Afinal de contas, ele está pagando...

E como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica, travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser ‘crítico’.”

Claro que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...

Estamos criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.

Um desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.

Ao assassino, corretamente, deverão ser concedidos todos os direitos que a lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei. Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A acusação penal a o autor do homicídio covarde virá do promotor de justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:

EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;

EU ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem vítimas;

EU ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e cometer crimes em outras escolas;

EU ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado, muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil dos alunos”;

EU ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por alunos igualmente sem condições de ali estar;

EU ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;

EU ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;

EU ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu “tantos por cento”;

EU ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus futuros clientes-cobaia;

EU ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e do respeito ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;

EU ACUSO os “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito;

EU ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de piadinhas, sorrisos e notas fáceis;

EU ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.

EU VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os professores sejam “promoters” de seus cursos;

EU ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos incidentes maiores;

Uma multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.

Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.

A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto, roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria. Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão. Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”

Qualquer um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar, dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de verdade.

Igor Pantuzza Wildmann (Advogado – Doutor em Direito. Professor universitário).

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

CARTA DE UMA PROFESSORA

Bem, tento muito não entrar na cena política neste blog que está dedicado à educação. Entretanto, é quase impossível, pois tudo gira em torno dela. Ainda mais que as escolas em que trabalhamos dependem de políticos.
Esta carta ao prefeito de Itajaí é da professora de Artes Silvana Rocha...


“Me deves respeito,
Pelo menos dinheiro”

Da música Kriptônia de Zé Ramalho

Continuando a carta da Valéria (magra do teatro)...

Utilizando este meio não tão arcaico, mas já ultrapassado na era do email: a carta.

Escrevo aqui esta carta aberta a quem interessar possa; ler uma reflexão que escrevo como professora da rede pública municipal de Itajaí ao prefeito Jandir Beline.

Sou professora de arte numa unidade da rede que trabalha com alunos no contra turno escolar, ali eles estão no período contrário da escola para as oficinas de arte, Ed física/xadrez, “reforço” de português e matemática, almoço, lanche, além de outras atividades... Assim a escola acaba o serviço que os pais começaram, buscando não só o ensino, mas uma educação integral que a família do século 21 não pode mais oferecer. Nós professores somos entusiastas e utópicos por natureza (quem não o é talvez deva repensar na sua vocação), acreditamos na educação até quando atravessamos o deserto mais hostil, mais abandonado. Acreditamos na poesia e no pão, e fazer educação aqui, é esculpir mármore com garfo do um e noventa e nove.

A disciplina de artes, que escrevo aqui como meu oficio há 23 anos (felizes), nunca foi a mais privilegiada, seguindo os moldes do colonialismo burguês: Artes???Tu só fazes isto?Só desenhas? Só pintas? Que vida boa!...(gostaria de desenhar esta cena), ainda que ouvisse na escola, quando o aluno não tinha nota, não porque tirava nota baixa, mas porque não entregava nenhum trabalho, a diretora ironicamente perguntava: Professora, ele não sabe fazer boneco palito????Hoje adquirimos um pouco... Um pouquinho mais de respeito, mas ainda desenhamos com o dedo no ar e imaginamos figuras nas nuvens em céu de brigadeiro, porque o meio que são os materiais não chega à escola.

NÃO HÁ MATERIAL PROFESSORA!

Resta-nos contar história, da arte. (que não é nada mal) mas não é o essencial, arte plástica tem a origem da manipulação de materiais, alterar sua química, sua física, sua plasticidade e assim expressar-se, comunicar.

Então tento explicar aos meus alunos, que PAGUEI este material, entre tantos ISS, INSS, ICMS, IPTU, até naqueles chicletes de sessenta centavos tem um lápis embutido que eu não pude ceder ao meu aluno (jamais dar, tem que devolver!), porque eu não o tinha!Meus direitos e dos meus alunos, de seus familiares e de muitos profissionais da educação, são as sombras da caverna de Platão, que a verdade não é real. Portanto Senhor Prefeito, deves respeito, pelo menos dinheiro a todos que acreditaram em você, a mim não deves nada, pois continuo esperando o material e a consciência política na minha escola utópica no limite entre a miséria e civilização. Onde o mundo se esqueceu dele mesmo.

Em tempo, nas minhas escolhas profissionais, sou de forma “filiada” a duas pastas do seu secretariado que hoje estão mais depredadas, a cultura e a educação, não desmerecendo as outras, considero as mais importantes além destas, a saúde, mas fique tranqüilo tenho plano de saúde.

Tenho escrito.

Prof. Ma. Silvana Maria da Rocha

Artista Plástica e Professora de arte

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

ACENTUAÇÃO GRÁFICA: Compreendendo o porquê das regras, através da tendência na leitura das palavras

ACENTUAÇÃO GRÁFICA:
Compreendendo o porquê das regras, através da tendência na leitura das palavras.

ITAJAÍ (SC)
2010

RUBIA CRISTINA DOS SANTOS

Artigo científico apresentado como requisito parcial para obtenção de título de Pós-Graduação com especialização em Língua Portuguesa, orientada pela Prof MSc. Gilmara da Silva
ASSESSORIA UNIVERSITÁRIA PEDAGÓGICA DE EXTENSÃO – AUPEX

RESUMO

Este artigo, construído através de pesquisa bibliográfica e de campo, apresenta uma possibilidade de se estudar a acentuação gráfica, mostrando a tendência da leitura da palavra. Desta forma, as regras de acentuação não são apenas algo para ser decorado, mas para compreender o motivo de suas origens. Aponta-se, através de uma pesquisa feita com professores da Língua Portuguesa e alunos de 7ª série (8º ano), como é difícil decorá-las, ou entender o motivo do porquê de a palavra ter sido acentuada. O trabalho explana uma alternativa que faz com que os alunos compreendam que os acentos existem apenas para que leiamos as palavras corretamente. Para isto, o método será elaborado, através de palavras que não existem na Língua Portuguesa. Há também uma pesquisa bibliográfica mostrando a importância e o motivo da acentuação gráfica, citando-se gramáticos e linguistas.

PALAVRAS-CHAVES: regras – acentuação gráfica - motivo

INTRODUÇÃO



Como percebi, durante as aulas de Língua Portuguesa, há uma grande dificuldade dos alunos em decorar as regras de acentuação, e como este conteúdo é complicado de ser trabalhado pelos colegas. Nesta perspectiva, esta produção bibliográfica e de campo apresenta uma proposta alternativa de se ensinar os motivos das regras de acentuação gráfica.
Apresento algumas conceituações e citações sobre a importância da acentuação gráfica, diferenciando-a da acentuação tônica, através de gramáticos e linguistas como: Joaquim Mattoso Câmara Jr. (1994), Domingos Paschoal Cegalla (2005), Sérgio Nogueira Duarte e José Luiz Fiorin (2005). Também como o tema está inserido até em comunidades de relacionamento, como o orkut.
O trabalho apresenta também uma pesquisa realizada com professores de Língua Portuguesa e alunos de 7ª série (8º ano), os últimos são de uma escola da rede pública de ensino de Itajaí (SC), sobre o estudo da acentuação gráfica e dificuldades em se decorar as regras. No desenvolvimento do trabalho, exponho uma alternativa a mais para os professores levarem às suas salas de aula, quando estiver lá no planejamento anual o momento de se entrar no tema acentuação gráfica. Este método não substitui a explanação das regras, mas faz os alunos analisarem o motivo de elas existirem.

2. DESENVOLVIMENTO



2.1 A IMPORTÂNCIA DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA NO CONTEXTO DA LÍNGUA PORTUGUESA



A palavra “acentuação”, para Câmara Jr. (1970), é uma maior força expiratória, ou intensidade de emissão, da vogal de uma sílaba, em contraste com as vogais assilábicas. Isto levando em consideração apenas o termo “acentuação”, sem o “gráfica”, já que a acentuação gráfica seria a marcação do acento agudo (´) ou circunflexo (^) numa palavra. E, em relação ao termo “sílaba”, Cegalla (2005), conceitua como um fonema ou grupo de fonemas emitidos num só impulso de voz (impulso expiratório). Lembrando que, na nossa língua, ela é formada sempre com uma vogal, agregada ou não, a consoantes ou a semivogais. Ou seja, a acentuação é o momento em que a sílaba é mais forte numa palavra.
Entretanto, em alguns casos, esta sílaba precisa de um detalhe para que, naquela palavra, ela seja mais forte. É aí que entram os acentos gráficos. “Na linguagem escrita, muitas vezes somos obrigados a indicar a sílaba tônica, o que fazemos com a utilização do acento gráfico agudo [´] ou circunflexo [^]”, Maia (2000). A comparação entre ambos é feita por Hauy (1993), da seguinte maneira: “Acento: traço prosódico que destaca uma sílaba da palavra, pela maior energia de expiração com relação às demais. Não se deve confundir acento tônico com acento gráfico. Aquele é um fato auditivo, de fala; este é um sinal escrito, visual”.
A linguista Raquel Santana Santos, em Fiorin (org) (2003), observa que, numa língua como a portuguesa, o acento pode ter a função distintiva, basta analisar as palavras: sábia, sabia e sabiá; pois é o acento gráfico que distingue seus significados. Genouvrier (1997) cita também o processo gramatical que consiste em diferenciar o substantivo (proparoxítona) do verbo (paroxítona), através da acentuação: fábrica (substantivo) e fabrica (verbo). Um exemplo, usando-se estes dois termos, seria: Ele fabrica seu próprio instrumento musical na fábrica.
De acordo com Duarte (2009), a utilização de acentos gráficos vem da Grécia Antiga. “Sua finalidade era indicar a sílaba tônica e também marcar os fonemas aspirados”. Comenta que, obviamente, os gregos não necessitavam dos acentos para falar corretamente o próprio idioma. “O brasileiro também não precisa saber escrever para poder falar o Português. A verdade é que o sistema de acentos é muito mais útil a um estrangeiro que deseja falar corretamente do que ao falante nativo, para quem a sinalização parece supérflua”. O seu principal objetivo, assim como aos gregos, era indicar, quando fosse necessária, a correta colocação da sílaba tônica na palavra: especialidade que, na Fonética, é chamada de Prosódia.
Logicamente, a sílaba tônica nem sempre é acentuada graficamente, como diz Cegalla (2005), citando as palavras cedo, flores, bote, senhor, caju, tatus, siri. E, mesmo assim, lemos estas palavras corretamente, pois são comuns ao nosso ouvido, por fazerem parte de nossa língua materna. Em alguns casos, há até uma confusão, como ouvimos muitas vezes em programas jornalísticos, como a palavra “gratuito”, em que muitos insistem em acentuar o “i”, ficando erroneamente “gratuíto”. Este erro é chamado de silabada.
A maioria dos alunos tem muitas dificuldades em como se acentuar as palavras. Talvez, porque fiquem buscando em alguma gavetinha de seus arquivos as regras dos acentos gráficos. Entretanto, ao estudar este conteúdo com o professor José Domingos de Andrade, de Gramática, em 1995, no curso de Letras da Univali (Itajaí), foi-se percebido que os acentos existem para que pronunciemos as palavras corretamente. Ou, seja, há uma certa tendência em nossa língua de como se ler as palavras: oxítonas, paroxítonas ou proparoxítonas.
Henriques (2007) acredita que as regras têm como principais objetivos: acentuar o menor número possível de palavras e empregar o acento com a finalidade de garantir uma única pronúncia para a palavra. Acrescenta que há um fato perceptível:
Assim, como o menor contingente de palavras portuguesas é de PROPAROXÍTONAS, a regra determina que todas sejam acentuadas. A seguir, opondo-se os outros dois contingentes, a regra examina quais as terminações com menor incidência entre as OXÍTONAS e as PAROXÍTONAS e determina o emprego de acento nos grupos minoritários. Por fim, como as questões envolvendo ditongos e hiatos não ficam resolvidas pelas regras básicas, novamente se recorre às ocorrências desses encontros vocálicos para se determinar o emprego de acento nos grupos de menor freqüência. Isso explica, por exemplo, por que nos ditongos abertos a regra só menciona ÉI, ÉU e ÓI, que têm menor ocorrência do que seus correspondentes fechados: não há em português o ditongo aberto ÓU (existe a pronúncia brasileira [w], mas a grafia é com L: sol [sw]). (2007, p.53)
Duarte (2009) informa que cerca de 80% das palavras, na nossa língua, não são acentuadas. E que para compreender este assunto é só observar a base: “só assinalar o inesperado; deixar sem marca o que é previsível”, já que o objetivo da acentuação gráfica é indicar uma pronúncia inesperada. Fala sobre a tendência de as palavras serem paroxítonas e acabarem em “a(s)”, “e(s)”, “o(s)” e “em(ens)”.
Se quisermos levar esta ideia à sala de aula, é só citarmos alguns substantivos que rodeiam os alunos: mesa, quadro-negro, caneta, borracha, calça, menina, aluno, parede, camisa, teto etc. Observando, tonicamente, estas palavras, é fato que são paroxítonas e todas acabam em “A”, “E” e “O”. Portanto, é claro que a maioria das palavras que fazem parte do nosso vocabulário são paroxítonas e têm estas terminações. Esta é a questão: o que acontece com as palavras que têm outras terminações e que não são paroxítonas? É aí que podemos começar a compreender o motivo dessas regras.
E será mesmo necessário o conhecimento da acentuação?
Maria Tereza de Queiroz Piacentini (2006) , apresenta alguns exemplos que mostram a importância da acentuação gráfica para informar a pronúncia correta, por exemplo, o das proparoxítonas: palavras que sempre deverão ser acentuadas graficamente, já que, se não o houver, jamais leríamos a antepenúltima sílaba como a tônica.
• Meu pai sempre pacifica seus netos. / Sua família é pacífica e ordeira.
• Ela critica seu modo de cozinhar. / Ela é uma pessoa muito crítica.
• Não publico meus discursos agora, mas no futuro o farei. / Não costumo ir a nenhum parque público.
• Sempre me exercito de manhã cedo. / O menino tem um exército de brinquedo.
• Pratica bastante, que aprenderás logo. / A prática é diferente da teoria.
• Espero que o cantor interprete minhas favoritas. / O embaixador solicitou um intérprete.
• Será que você não duvida de nada? / Qual é a sua dúvida agora?
• Não habito no paraíso dos meus sonhos. / O hábito não faz o monge.
• O trânsito vitima milhares de pessoas por ano no Brasil. / A população é a vítima.
• Peço que analises estas amostras de sangue. / As análises serão feitas no laboratório.
• Já nem calculo quanto tempo perdi. / Fez o cálculo da areia necessária para a construção.
• Eu mesma digito meus artigos. / O dígito verificador foi calculado de maneira errada.
• A bandeira tremula ao gosto do vento. / Fez a assinatura com mão trêmula.
• Jamais trafego à margem da rodovia. / Evito os percursos de tráfego mais pesado.
• Todo verão, a loja liquida seus estoques. / Prefiro medicação líquida a comprimidos.
Para a escritora, a acentuação gráfica serve para informar a leitura correta das palavras. “Alguns acentos indicam a intensidade e outros informam se a pronúncia é aberta ou fechada”.
Uma curiosidade é que o tema acentuação gráfica é encontrado, inclusive, no cenário cibernético, nos sites de relacionamento. Basta fazermos pesquisas nas comunidades do Orkut, que encontraremos 765 que têm, em seu nome, a palavra “acento”, principalmente dizendo a maneira como são escritos os nomes dos usuários: “Erika! Com "K" e sem acento!!!” (com mais de 7 mil participantes), “Letícia COM acento!!” (mais de 4.600). Na comunidade “Revisores”, que conta com mais de 3.800 membros, no Fórum, há 280 perguntas relacionadas ao assunto, principalmente, ligadas à questão do Novo Acordo Ortográfico.
Já que a acentuação gráfica é um dos conteúdos primordiais para termos uma boa escrita, é importante apontar dados da última edição do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional – INAF (IPM, 2005). “Apenas 26% da população entre 15 e 64 anos têm domínio pleno das habilidades de leitura e escrita, enquanto a maior parte, 38%, encontra-se no nível de alfabetização básica”. Todavia, voltando às regras de acentuação gráfica, vamos decorá-las todas? Até podemos, já que alguns alunos têm essa facilidade. Mesmo assim, é muito mais interessante se soubermos o motivo destas regras existirem.


2.2 DECORAR AS REGRAS OU COMPREENDÊ-LAS?


Iracy Paulina cita Irene Tamaki Uematsu Harasawa na matéria Gramática sem decoreba (2007): [...] As aulas de gramática normativa, baseadas só em fatos da língua-padrão, não têm sentido para a garotada [...]. Na época, já lecionava há 26 anos. Entretanto, havia sete que iniciara um novo jeito de desenvolver o conteúdo, pois “quando o estudante é estimulado a refletir sobre a língua, ele vai longe. Precisamos saber responder às questões”, comenta. Paulina (2007), também inclui a opinião de Artur Gomes Morais , que fez uma pesquisa sobre o tema em 2002. Para o estudioso, a questão não é exatamente aprender as regras gramaticais, mas dominar também a língua culta de uso real, aquela de fato usada pelas pessoas mais escolarizadas.
João Alberto da Silva (2009) , fala sobre as pesquisas mais avançadas em Psicologia da Inteligência:
[...] tem mostrado que a memória é apenas uma parte do que constitui a inteligência. Na verdade, toda aprendizagem baseada em memorização é muito restrita. É como a inteligência do papagaio, que sabe apenas dizer palavras sem entender o que faz.
Silva (2009) cita inclusive, os testes de avaliação do desempenho de estudo governamental. Para ele, são muito atuais e modernos, já que procuram avaliar o raciocínio empregado na solução dos desafios. Entretanto, como as crianças estão mais habituadas a responder perguntas com respostas memorizadas, o desempenho delas é muito fraco.
Levando em consideração que tão importante quanto saber as regras de acentuação é saber o motivo de suas origens, viu-se necessário a experimentação de um método alternativo no estudo deste conteúdo.
Na matéria A Gramática como Pesquisa, Francisco (2009) fala sobre o impacto aos professores de Língua Portuguesa, com os Parâmetros Curriculares Nacionais, que propõem uma nova implementação do ensino da gramática. [...] O maior impacto dessa proposta foi (e continua sendo) o de abandonar o ensino de regras gramaticais [...].
LUFT (1998) comenta sobre esta falta de prática ao se pensar, deixando o pensamento lógico pouco exercitado. Basta observar os bancos acadêmicos: “É só apelar para a abstração, para o poder de raciocínio, que os alunos estão perdidos, com poucas exceções. Ficam na superfície das ideias, sabem repetir (mais ou menos), decorar; mas a dedução/indução lógica, o pensamento criativo é algo totalmente acima de suas juvenis cerebrações”.
Vamos fugir da área de ensino e pensar uma aula de Física, o quanto é difícil ficar apenas decorando aquelas fórmulas, sem compreender o motivo de elas existirem.


2.3 UM QUESTIONAMENTO SOBRE A ACENTUAÇÃO GRÁFICA A ALUNOS E PROFESSORES


Para argumentar melhor a proposta de método de ensino, foi realizada uma pesquisa de campo com professores de Língua Portuguesa, pós-graduandos de Itajaí e alunos de 7ª série (8º ano), numa escola pública, da rede municipal de educação em Itajaí, em julho e agosto de 2010.
Dos dez professores abordados, quatro responderam “às vezes”, para a pergunta “Você sente dificuldade na acentuação gráfica?”. Seis falaram que não. Três disseram que não conhecem todas as regras de cor. Sobre a questão de como estudaram a acentuação gráfica, poderiam responder as duas alternativas: decorando-as, ou observando a tonicidade das palavras. Oito responderam a primeira opção, e nove a segunda.
A pesquisa contava também com um exercício para acentuarem algumas palavras, quando necessário . Apenas três acentuaram a palavra “júri”. Quando foi perguntado sobre o que é acentuação gráfica, houve respostas como: “uma regra um tanto desnecessária” e “meras regras”; e na questão sobre o porquê de se existirem os acentos: “para complicar a nossa vida”, “para dificultar”. Já em relação às regras que sabem de cor, “todas as proparoxítonas são acentuadas” foi a mais lembrada. Inclusive, no questionário de uma das entrevistadas, esta foi a única recordada.
Quando questionadas sobre a maneira como é ensinada a matéria de acentuação gráfica aos seus alunos, as respostas foram: através das regras e modelos, enfatizando a tonicidade, contextualizando o conteúdo, para encontrarem as regras de acentuação em algumas palavras.
Em relação à pesquisa aos alunos, 25 foram abordados. Destes, na pergunta se sentem dificuldade na acentuação ortográfica, 19 responderam “às vezes”; e seis, “sim”. Ao todo, 21 alunos disseram que não conhecem as regras de cor e apenas quatro que sim. Entretanto, os quatro que disseram “sim” não conseguiram citar nenhuma regra que conhecem de cor. Tanto que, nesta mesma pergunta, entre as diversas respostas como “nenhuma”, “sei lá” e “não lembro”, houve respostas como: “A acentuação só pode ser feita nas vogais”; “Paroxítona possui o acento na penúltima sílaba, oxítona possui o acento na última sílaba, e proparoxítona possui o acento na antepenúltima sílaba”; “Acento agudo e o chapeuzinho”; “Todas as paroxítonas tem acento” e “Acento agudo, circunflexo, crase”. Ou seja, analisando todas as 25 respostas, não há regra de acentuação alguma que eles saibam decoradas.
Quando questionados sobre a maneira que estudaram a acentuação, nove falaram que foi através das regras; e 16, a partir da tonicidade: fato interessante, pois mostra que os professores não têm se apegado apenas às regras, mas ao som das palavras, para que eles prestem atenção na intensidade do som de cada sílaba. E se acham fácil aprender acentuação através das regras, treze responderam que sim, contra 11 que não. Mas é bom ressaltar que até os que responderam “sim” não conseguiram citar uma regra sequer.
Na pergunta que pediu uma reflexão sobre o motivo de se haver o acento gráfico, ou o que é o acento, algumas respostas demonstram uma certa falta de noção sobre a questão, ou deixaram apenas respostas supérfluas: “Para dar volume na palavra”; “Para dar sentido as palavras”, “Para compreender os acentos; “Para mim acentos serve para muitas coisa mas principalmente se não ouve-se acentos não saberiamos quase nada”; “Para acentuar as palavras” e “São regras de palavras da Língua Portuguesa”. Já outras fizeram a relação com o som da palavra: “Para mudar a palavra conforme os acentos dando força na sílaba”; “Para mim eles existiram para facilitar a leitura”; “Para a leitura ser entendida”; “Para as palavras ficarem certas”; “Para diferenciar uma palavra da outra”; “Para nós falar mais certo as palavras”; “Para nós não lê errado. Ou seja, a palavra forte ou a sílaba fica fraca, daí não se entende e lê errado”; “Porque senão, muda o som da palavra”; “É uma regra da Língua Portuguesa que faz as sílabas ficarem mais fortes”; “É a tonalidade das palavras”; “É quando possui acento que dá força na sílaba, exemplo: limão , lápis, avô etc.”e “É para melhorar a leitura. Se as palavras não tivessem acento, não seriam lidas corretamente”. Infelizmente, muitos deixaram essas duas questões em branco ou responderam apenas que não se lembravam, ou que não sabiam.
Na hora em que tiveram que acentuar as palavras, quando necessário, (as mesmas do questionário aos professores), das 250 palavras (sendo 10 para cada aluno), 94 foram, ou deixaram de ser, acentuadas, erroneamente. Incluindo os erros de troca de acento, como pôr um circunflexo em vez do agudo. A que mais houve erros foi a “júri”: 15 dos 25 alunos a erraram, seguida da “cafezinho”, pois muitos colocaram o acento no “e”, como o vocábulo café: 14 alunos. A mais grafada corretamente foi a “café”: 21 alunos a acertaram. Apenas duas pessoas acertaram todas as palavras. No entanto, quando foi pedido para explicarem a regra de acentuação de cada marca, uma dessas duas respondeu apenas: “Eu acho que horário tem acento porque é paroxítona”. E a outra: “Horário tem que ter acento agudo no ‘rá’ porque é mais forte a vogal” e “Espetáculo: a palavra tá é a mais forte, porque é proparoxítona”. Dos 25 entrevistados, 21 deles deixaram essa resposta em branco. Houve respostas como: “Na palavra café, quando botamos acento na ultima letra ela ficou mais forte” e “Acentuação das palavras mais fortes, ex: HORÁRIO”. Estas respostas mostraram, também, a confusão que houve entre palavra e sílaba.
Esta pesquisa deixou claro que o conteúdo de acentuação gráfica, conforme pudemos observar, é complicado até para alguns professores e muito mais para os alunos que ainda estão no Ensino Médio. Inclusive, muitos não sabem nem para quê servem estes acentos. Então, é necessária a busca de novas maneiras de aplicá-lo em sala de aula.


2.4 A OPÇÃO DIDÁTICA PARA O ENSINO DE ACENTUAÇÃO


Antes de iniciar o método, é necessário um estudo sobre fonética, com fonemas, letras, classificações através da tonicidade, números de sílabas, encontros vocálicos, consonantais etc. Somente após é que se inicia a análise do motivo das regras, apresentando diversas palavras que não existem. Então, no momento de leitura, perceberão que, dependendo da letra em que a palavra termina, ela será lida de uma maneira diferente. Ou seja, as sílabas tônicas serão diferentes. A sugestão é escrever as palavras todas em colunas. Por exemplo: as que acabam em “A” numa, em “O” noutra etc. E cada cartaz, com os términos de acordo com as regras.
As palavras no primeiro cartaz podem ser:
Na primeira coluna: LETOCA, GOTEMA, METONAVA, RUFABA, GIBOMACA e VITILOTA. Na segunda coluna: CAFAVE, PELUMANE, CHULOBE, PITOVALE, MAOMIXE e GOMOTE. E na terceira coluna: FIJUVALO, CAJIFADO, BEFIGODO, XEBUTO, BITOMO e JILOGOVO. É interessante escrever palavras com, pelo menos, três sílabas cada, para que se possa torná-las também proparoxítonas.
Inicialmente, os alunos não entenderão o motivo daquelas várias palavras sem sentido. Então, será pedido para que comecem a ler os vocábulos que nunca ouviram falar. E a tendência será lê-las, como paroxítonas. Logo, será analisado que todas acabam em “A”, “E” ou “O”. Se quisermos que sejam oxítonas, explicando “A última sílaba mais forte”, o que deverá ser feito? - Colocar o acento na última sílaba. Então: compreenderemos uma regra: “Todas as oxítonas terminadas em ‘A’, ‘E’ e ‘O’ são acentuadas”. Lógico, pois se não houver o acento na última sílaba, jamais leremos desta maneira. E se quisermos que sejam proparoxítonas? - Na antepenúltima. Então, entenderemos a regra que é mais decorada, de acordo com a pesquisa: “Todas as proparoxítonas são acentuadas”. É que se não houver o acento nesta sílaba, mesmo que termine em qualquer letra, ela nunca será lida como proparoxítona. É bom acrescentar que estas palavras podem estar no plural, pondo um “S”.
Neste exercício, pode-se compreender a diferença do acento agudo e circunflexo. Por exemplo: pode-se colocar o acento agudo na CHULOBÉ e após o circunflexo: CHULOBÊ. Observarão que o som do “E” será ora aberto, ora fechado.
No outro cartaz, inicia-se a observação das palavras que acabam em “EM” ou “ENS”. Na primeira coluna: BOLOBEM, TITOLEM, BIBOMEM, JIVIMEM, MANOBEM, VOBELEM. Na segunda coluna: MAJEMENS, ITALENS, BITELENS, ALUGOMENS, ARANAZENS e VITUPENS. O professor pedirá para os alunos lerem as palavras e todos acabarão lendo como se fossem paroxítonas. Então, para serem oxítonas, será preciso pôr o acento na última sílaba; e, para se tornarem proparoxítona, idem. Desta maneira, mais regras serão compreendidas: “Todas as oxítonas terminadas em ‘EM’ e ‘ENS’ são acentuadas”. E, mais uma comprovação da regra já vista anteriormente: “Todas as proparoxítonas são acentuadas”.
Nos outros cartazes, iniciam-se palavras terminadas com o “sabonete RINLUX”: “R”, “I”, “N”, “L”, “U” e “X e, também, “ÃO”, “Ô, “UM”, “UNS”, “OS” e “Z”. Num primeiro cartaz, é bom colocar as que levam as duas vogais e as com til. Na primeira coluna: FOMAJI, TUMILI, BILOCI, SETUJI, FOMAJU, TUMILU, BILOCU e SETUJU. Em outra coluna: FOMAJÃO, TUMILÃO, BILOCÃO, SETUJÃO, FOMAJÃ, TUMILÃ, BILOCà e SETUJÃ. Nesta, podemos brincar que os vocábulos que acabam em “Ô são femininos dos que acabam em “ÃO”. Em outra coluna: FOMAJUM, TUMILUM, BILOCUM, SETUJUM, e seus “plurais”: FOMAJUNS, TUMILUNS, BILOCUNS e SETUJUNS. Em outro cartaz, os que acabam em R, N e L: FITURAR, GILOMER, BOTOZIR, POLIGAR, TUMILAR, SETUGIR, JOLACOR; FITURAN, GILOMEN, BOTOZIN, POLIGAN, TUMILAN, SETUGIN, JOLACON, e FITURAL, GILOMEL, BOTOZIL, POLIGAL, TUMILAL, SETUGIL, JOLACOL. E, no último cartaz, as palavras acabarão em “X”, “OS” e “Z”: Primeira coluna: FITURAX, GILOMEX, BOTOZIX, POLIGAX, TUMILAX, SETUGIX e JOLACOX. Segunda coluna: FITURAPS, GILOMEPS, BOTOZIPS, POLIGAPS, TUMILAPS, SETUGIPS e JOLACOPS. Na última coluna: FITURAZ, GILOMEZ, BOTOZIZ, POLIGAZ, TUMILAZ, SETUGIZ e JOLACOZ.
Nestes cartazes, as palavras serão lidas, naturalmente, como oxítonas, pois estas letras deixam as últimas sílabas mais fortes. Então, será questionado aos alunos: “E se quisermos que a penúltima sílaba seja a mais forte, para ser paroxítona?” e “E se quisermos que a antepenúltima seja a mais forte, para ser proparoxítona?”. A única maneira será colocando o acento. Mais duas regras serão compreendidas, sendo que a da proparoxítona já havia sido observada anteriormente. Então, uma nova: “Todas as paroxítonas terminadas em RINLUX, PS, UM, UNS, ÃO, Ã e Z são acentuadas”. É óbvio, senão não as leríamos desta maneira.
Os outros cartazes mostram a questão dos hiatos e ditongos. LETOCIA, GOTEMIA, METOVALIA, RUFABIA, GIBOMACIA, VITILOTIA (na primeira coluna); CAFAVIE, LUMANIE, TULOBIE, PITOVALIE, MAOMIXIE, GOMOTIE (segunda coluna) e FIJUVALIO, CAJIFADIO, BEFIGODIO, XEBUTIO, BITOMIO e JILOGOVIO (na última coluna). Ao lerem estas palavras, colocarão o acento tônico no “I” (penúltima letra), tornando as palavras paroxítonas. Entretanto, se eu quiser que elas sejam paroxítonas, mas deixando as duas últimas vogais unidas, ou seja, semivogal e vogal; tornando-se ditongos, terei que acentuar: LETÓCIA, GOTÊMIA, METOVÁLIA, RUFÁBIA, GIBOMÁCIA, VITILÓTIA. Mais uma regra compreendida: “Todas as paroxítonas terminadas em ditongo são acentuadas”. Lógico, senão eu tornaria mais forte a vogal próxima à consoante, como nas palavras já existentes: COMIA, ENTENDIA e BEBIA.
Nestes cartazes, podemos aproveitar a tornar estas palavras também proparoxítonas. Ou, deixando a última sílaba mais forte, tornando-as todas como hiatos. Exemplificando, na primeira coluna, teríamos: LETOCIÁ, GOTEMIÁ, METOVALIÁ, RUFABIÁ, GIBOMACIÁ, VITILOTIÁ. É claro que para ficar esta última vogal mais forte, seria necessário o acento, senão seria apenas um ditongo.
Para os hiatos, podemos fazer mais cartazes, incluindo palavras em que eles fiquem no meio do termo: FOMAJAU, TUMILOU, BILOCEU, SETUZAU, FOJAUMA, TULEUMI, BICIULO, SEZAUTU, FOMAJAI, TUMILUI, BILOCEI, SETUZOI, FOJAIMA, TULUIMI, BICEILO, SEZOITU. Lendo estas palavras, não serão hiatos, e sim ditongos. Então, lá vão os acentos: FOMAJAÚ, TUMILOÚ, BILOCEÚ, SETUZAÚ, FOJAÚMA, TULEÚMI, BICIÚLO, SEZAÚTU, FOMAJAÚ, TUMILUÍ, BILOCEÍ, SETUZOÍ, FOJAÍMA, TULUÍMI, BICEÍLO, SEZOÍTU. Pois é bom lembrar que a tendência do I e U é de serem semivogais (terem o som fraco) quando estiverem após a vogal. Então, se eu não colocar o acento, jamais terão o som forte. Outra regra compreendida: “São acentuados os hiatos em que a segunda letra são ou I ou U”. E temos que aproveitar o momento para explicar a exceção, usando outras palavras: TUMILOUNHO, BILOCEUNHE, SETUZAUNHO, FOJAUNHA, TULEUNHO, BICIUNHO, SEZAUNHA (na primeira coluna); e TUMILOINHO, BILOCEINHE, SETUZAINHO, FOJAINHA, TULEINHO, BICAINHO, SEZAINHA (na segunda coluna). Mesmo o som do “I” e do “U” sendo os mais fortes, não poderemos acentuá-los, pois são seguidos do dígrafo “NH”, como as palavras: RAINHA, TAINHA e BAINHA. Infelizmente, esta é apenas uma regra que deve ser decorada. E a pesquisadora não conseguiu encontrar o motivo da origem.
E já aproveitamos para explicar o som do ditongo aberto. Um outro cartaz com as palavras: FOMAJEU, TUMILEU, BILOCEU, SETUZEU, FOJEIMA, TULEIMI, BICEILO e SEZEITU (na primeira coluna) e FOMAJOI, TUMILOI, BILOCOI, SETUZOI, FOJOIMA, TULOIMI, BICOILO e SEZOITU (na segunda coluna). Sem acento algum, jamais leremos estas palavras com o “E” ou “O” abertos. Se quisermos que sejam, terão que ter o acento. Entretanto, lá teremos que explicar as exceções após o Novo Acordo Ortográfico, pois quando forem paroxítonas não são acentuados. FOJEIMA, TULEIMI, BICEILO e SEZEITU; FOJOIMA, TULOIMI, BICOILO e SEZOITU: “A partir do Novo Acordo Ortográfico, os ditongos abertos “OI” e “EI”, quando a palavra for paroxítona, não terão mais acento”. Ou seja, mesmo que tenha o som de FOJÉIMA, não será mais escrita com acento, como: PLATEIA, IDEIA, JOIA, BOIA, JIBOIA.
É bom lembrar que estas palavras inventadas podem ser outras. Em alguns casos elas ficaram bem parecidas, mudando-se apenas o fim. Então, cabe ao professor criar as palavras que quiser. As ferramentas utilizadas podem ser cartazes, com vários acentos agudos e circunflexos em pequenos papéis que possam ser postos nas palavras. É bom que os papéis com os acentos sejam numa quantia suficiente, para que todas as palavras que estiverem nos cartazes sejam acentuadas, tanto no agudo quanto no circunflexo. Acima de cada vogal, é interessante colar uma faixa pequena de papel duro, para que se possa colocar os acentos ou tirá-los.
Repetindo, é bom aproveitar o momento, para mostrar que o acento circunflexo pode ser posto apenas nas vogais “E” e “O”, explicando já o motivo. Exemplo: CORRÊSSEMOS, pois se fosse o acento agudo, leria com o “E” aberto “CORRÉSSEMOS”; e “ÔMEGA”, senão leríamos com o “O” aberto “ÓMEGA”.
Há também a opção de se fazer através de apresentações no PowerPoint, se for possível o uso do datashow. Para isto, todas as palavras devem estar sem acento algum, e deixar para que os acentos transformando-as em paroxítonas, oxítonas ou proparoxítonas, de acordo com a regra, apareçam após, um por um. Basta colocar os acentos inserindo-os nas caixas de textos. Após, clicar em cada uma e ir no “Apresentações”, após em “Personalizar animações”. Clica no acento que queres que apareça só após apertares o botão, e coloque em “Adicionar efeito”, “Entrada” e “Surgir”. Faça isso em todos os acentos na ordem que se quer. Desta maneira, o aluno vai lendo como fica a palavra, quando o acento estiver exposto em outra sílaba.
Alguns colegas ou alunos podem questionar o motivo de não usar nessa atividade palavras que já existam no nosso idioma. A resposta será: se as palavras já são conhecidas pelos alunos, elas já serão lidas da maneira correta, estando o acento no local adequado, ou não. Portanto, usando palavras inexistentes, eles colocarão o acento tônico de acordo com a tendência. Desta forma, compreenderão os motivos das regras de acentuações gráficas e não apenas terão que decorá-las, como se fosse algo inventado por alguém do nada.


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Esta alternativa é uma opção a mais para se ensinar a maneira correta de se acentuar as palavras graficamente. Entretanto, é importante, também, expor as regras, inclusive, as alterações com o Novo Acordo Ortográfico.
Muitas vezes, as palavras não são acentuadas corretamente, por falta de atenção do aluno em relação ao som da palavra. Então, é importante observar, muito bem, numa palavra, já existente, qual a sílaba é a tônica. É interessante colocar a palavra no quadro e lê-la deixando a última sílaba forte, depois a penúltima e até a antepenúltima. Transformando-a, respectivamente, em oxítona, paroxítona e proparoxítona. Logo após, perguntar quais maneiras soaram estranhas aos ouvidos.
E seguir em frente, com o questionamento: ela precisou de algum acento para ser lida desta maneira? Se sim, teremos que acentuá-la, se não, qual o porquê da marca de acentuação?
Como foi visto neste trabalho, a acentuação correta é necessária tanto para que a palavra seja lida corretamente, haja vista que um acento no lugar errado poderá vir a mudar até o sentido da palavra, como: sabiá, sabia e sábia.
E entender os motivos dessas regras é uma maneira a mais para o cérebro discernir este conteúdo que tantos alunos e até professores têm aversão.
Uma sugestão é pedir para os alunos pesquisarem os motivos destas regras sem se falar nada. Ou, após explicá-los, fazer um novo teste com eles, ditando palavras que não existem, já acentuando tonicamente da maneira que o professor deseja e observar como foram grafadas. Depois, colocar no quadro estas palavras e analisá-las com a turma. É bom observar que, sempre quando se há avaliações sobre acentuação, os alunos tendem a colocar acento onde não é necessário. Cabe ao professor perguntar: “Precisava deste acento, para que ela fosse lida desta maneira?”. Se a resposta for negativa: “Então, por que você o usou?”. Por isso, acertamos quando colocamos o acento no lugar certo, mas também quando não usamos o acento, no momento que não for pedido.


REFERÊNCIAS


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Obs: alguns exemplos de slides: