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domingo, 29 de novembro de 2009

Sincretismo no São João

cortejo

tambores na igreja

publicado no Platéia: novembro de 2007

A santa que carrega o menino é levada por quatro homens pela rua que acompanham o cortejo. Muitos e muitas, vestidos de branco e outros e outras, com roupas coloridas. Senhoras carregam a bandeira que diz: “Santa Maria Mãe de Jesus”. Duas moças, as coroas do rei e da rainha, seguidas por meninos e meninas e pelas princesas. Neste caminhar, também está o grupo Catumbi, que há mais de dois séculos comemora a festa, em Itapocu, no município de Araquari. Os homens vestidos de branco e azul levavam suas espadas, com seu cantar e tocar. O Jaé caminhava com o seu maracatu, alfaias, gonguês e dança. O canto, a dança e as cabeças erguidas foram em busca de Laerte Matos e Fabiana Gama: futuro rei e futura rainha, acompanhados de seus conselheiros. Ao encontrá-los, seguiram até a igreja. Quem andava pela rua, talvez, não entendesse o que se sucedia. Um homem soltava fogos, em comemoração à Festa da Nossa do Rosário: uma das festas que descende dos africanos que foram arrancados de suas terras para serem escravos no nosso Brasil.
Esse domingo era dia de festa, porque era dia de coroação do rei e da rainha. E tudo aconteceu dentro da igreja de São João. Sim, dentro de uma igreja católica, que há tempos proibia os cultos desses negros.
O rei, rainha e as crianças subiram ao altar, recebidos pelo padre e posicionaram-se bem abaixo da cruz. Nos primeiros bancos da igreja sentaram-se os conselheiros e conselheiras, vestidos de azul, com detalhes branco e rosa. A música também entrou com o Catumbi. E a missa iniciou, da maneira católica, mas com o colorido do povo africano. O sincretismo estava diante dos olhos dos presentes. No momento das oferendas, entram a pá e a concha que simbolizam a comida, nas mãos de Maria da Paz da Silva Benedito; a capoeira do muzanza, com Luis Marcelino; e a música através da batucada e dança do maracatu do Jaé. As escadas do altar ficaram repletas de tambores, enquanto o Padre Henrique celebrou a Santa Ceia, com vinho, hóstia e a participação de todos com a comunhão. Ainda antes da coroação, o professor José Bento Rosa da Silva aproveitou para falar sobre a história da Festa que foi difundida na África pelos dominicanos e chegou ao Brasil no século XVI, com os africanos escravizados.
A Festa do Rosário ocorre praticamente em todo o Brasil e está vinculada às populações de origem africana e aos grupos negros que realizam os autos populares conhecidos por Congada, Congado ou Congos. Em Itajaí, ocorreu pela primeira vez em 1992, na Igreja de São João até 1996. Entretanto, tem-se notícia da bandeira do Rosário, já no século 18, em que ela percorria várias localidades e concentrava-se na Penha, que pertencia a Itajaí. “Antes tinha um âmbito maior. Onde a bandeira passava, as pessoas iam até lá visitar”, diz Bento. Já a partir de 1998, a festa em Itajaí reveza-se entre as igrejas dos bairros de Cordeiros, Vila Operária e São João.
O momento mais esperado chegou ao final da manhã. Agora, o rei e a rainha estavam coroados. Na coroa do rei, a machadinha de Xangô. Na da rainha, o símbolo de Yemanjá.
Como é de praxe, o casal do próximo ano já foi escolhido. “Não precisam ser negros, mas devem estar envolvidos na luta.” E, para fechar a Festa, todos foram convidados para o almoço bem ao lado da igreja. Essa festa foi no dia 21 de outubro. Mas esta data não é fixa. Conforme disse Rosa de Borba Travasso, em 1997, na época, com 87 anos: “Era no dia 7 de outubro”. Mas, por chover muito, mudaram para dezembro. Então, ela varia de lugar para lugar.

Matador em Poesia

seu Porto apresenta seu bairro


publicado no Platéia: outubro de 2007

No livro “Poesias Crônicas Contos”, produzido com textos que participaram do concurso literário para idosos, uma poesia chamou muito minha atenção, entre tantos textos que relatam as histórias de vidas dessas pessoas itajaienses, ou que escolheram a cidade para viver. Era uma poesia grande no tamanho. E, maior ainda no seu valor. Ela conta a história, através de seus versos musicados, do bairro Nossa Senhora das Graças: o popular Matador.
O poeta, trovador e improvisador Romeu da Silva Porto, de 84 anos, deve ser um grande observador. Ele conta, através da “O Velho Matador”, que neste bairro tão conhecido pela criminalidade, uso de craque, e por ser o local onde está cravado o cadeião, também mora a felicidade. O Seu Porto conta do surgimento do bairro: “onde um dia o progresso/ aqui chegou, e cresceu/ tempos velhos que se foi/ simples matador de boi,/ na lembrança então ficou,/ de uma rua enlamaçada,/ feita em forma de picada/ uma vila se formou”. Ele diz que antes não havia a cadeia, era uma vila bonita. Inclusive, para ele, o que deveria mudar no bairro é justamente esse presídio: “Esse presídio que envergonha nós tudo”.
A poesia fala, também, de tristezas, como a morte do boiadeiro João, que trabalhava no matadouro de boi: “Homem forte e destemido,/ tinha firmeza na mão,/ na primeira punhalada,/ acertava o coração”. Motivo de sua morte matada? Não concordou com o seu patrão em trabalhar aos domingos. Antes, era tudo pasto e os bois eram todos bravos: “O interessante é que nós tirava os couro de boi e o João empilhava o couro e ia pra Brusque, no bairro da Santa Terezinha. Faziam sapato”.
Para este homem, o orgulho do bairro é o Beco da Nice. “A Nice foi uma grande batalhadora, que fez no beco um córrego, sem nada e seco, fez o que tá agora”, recorda.
Seu Romeu não fala, ele declama. Há uns 60 anos que ele faz poesia. Onde nasceu? “no outro lado do mundo”, como ele mesmo diz. Na Polônia. Sua mãe morou num campo de guerra e ele tinha 25 anos de idade, quando ela morreu, com uma metralhadora na mão. “Com a guerra, o Stalin pegou 250 crianças e mandou pra América do Sul. 150 vieram pro Brasil e 100, pra Argentina”. Foi um senhor do Recife, Antonio da Silva Porto, que o criou.
Seu Romeu não conta só histórias do bairro, como demonstrou em sua poesia, mas de mundo. Ele conta que o homem que o criou colocou-o na Marinha. Ele disse já ter ido à guerra: “O Getúlio fez uma coisa errada. Deixou a Marinha pros Estados Unidos. Eu perdi minha vista na Coréia. O americano que é covarde, sem vergonha e tem medo de todo mundo, deixou nós lá na frente. Nós não tinha nada com aquilo”, relembra. E mostra a bala que tem em seu pescoço e aponta para o olho que perdeu. Mas a vista perdida não tirou sua visão de mundo.
Enquanto anda pelas ruas do bairro, diz que se sente muito bem: “Todo mundo me conhece. Eu fui um dos primeiros daqui”. E ele caminha e caminha pelo bairro que, como diz sua poesia, é do Seu Minela que fez o campinho, do Negro Rita que fundou o baile onde negro não podia entrar vestido de branco, do Maneca da Catarina da primeira rebelião do presídio, do CRAS que veio com a Associação de Moradores, do Matador em que se passava a Estrada de Ferro, onde tinha a capelinha de madeira. Enfim: o Matado do “povo forte e valente/ de pureza e sangue quente”.Em outro momento, ele faz mais uma rima:
“Quem tá passando aí?/ É o velho Porto/ o poeta de Itajaí”.

Rumo à lua verde*

equilibristas nas piscinas


oficinas de comidas naturais
malabaristas

dançando com o fogo
publicado no Platéia: março de 2008

Para quem quis trocar as batucadas das baterias do carnaval de rua, as mulheres seminuas das escolas de samba na Rede Globo, ou as loucuras de um carnaval de salão, pelo rock’n roll, teve uma opção: Psicodália. O evento está em sua 11ª edição e, neste ano, foi realizado na Serra do Tabuleiro, em São Martinho.
Tudo começou no sábado, 2 de fevereiro, em que houve a participação da itajaiense Casa de Orates, com sua Trupe Sonora. Os integrantes aproveitaram para fazer o lançamento do CD “O Artesão dos Sonhos”, que contém 11 faixas, representando muito bem o rock psicodélico peixeiro. Além das cerca de 30 bandas que apresentaram seu som no Palco do Pasto, no Palco do Sol e no Morro dos Psicodálicos Uivantes, houve oficinas de malabares, de clown, pandorgas, de música na índia, de máscaras de argila, de tintas naturais, origami e outras. Também, palestras, como a de “Desintoxicação, Cura e Regeneração Através da Alimentação e Medicina Natural”. As barracas marcaram seus territórios nos diversos acampamentos: Mutantes, Casa das Máquinas, Secos e Molhados e A Barca do Sol. Na hora do “rango”, poderia-se escolher o prato feliz que custava 5 reais, ou um buffet livre, com comidinha natural, por 10. E uma das opções foi a Cozinha Comunitária, com todo o pessoal preparando o almoço num fogo em comum, lambuzando-se de frutas e lavando as panelas com a água que vinha diretamente do morro. E água foi o que não faltou. E foi necessário já que o sol não parou de radiar: havia as piscinas naturais, rios geladíssimos e cachoeira (mesmo sendo mais afastada da estrutura). Para limpar o suor das andanças, já que era difícil ficar parado, o Psicodália conta com banheiros com água quente. E, se escolhesse bem os horários, poderia escapar daquelas filas imensas com o pessoal carregando suas toalhas, roupas, xampus, sabonetes, escovas e pastas de dentes... Calor pelo dia e frescor à noite. E, pelas noites, as estrelas cobriam o céu de norte a sul, leste a oeste.
Participar do Psicodália é ter a certeza de que desfrutará de alguns dias, no mínimo, de tranqüilidade; que estará entre pessoas com uma boa energia, e que assistirá a cenas pitorescas, como os tombos dos e das equilibristas que tentavam atravessar a piscina na corda, ou ver o Plá cantando a paz e o show de fogos e labaredas com os malabares. Também, havia feiras de vinis, camisas, artesanato. E, quem presenciou o Psicodália deste ano pôde prestigiar uma das bandas que mais deixaram sua marca no rock brasileiro: a Casa das Máquinas, que retornou justamente no Palco do Pasto, no carnaval mais rock’n roll brasileiro. A banda, que teve sua origem na década de 70, foi formada por alguns ex-intergrantes da The Clevers e Os Incríveis, e teve como objetivo fazer um trabalho menos comercial. A atual formação é composta por Luiz Franco Thomaz (Netinho) na bateria e percussão, por seu irmão Marinho Thomas na segunda bateria, Mario Testoni nos órgão, teclados e piano, e ainda no baixo e vocal Andria Busic (Dr. Sin) e, na guitarra, Faíska. Como disse Andria “Esse é o evento mais bonito que eu já vi na minha vida. Hoje estamos vendo uma banda de passado, presente e futuro.” Com sua voz rouca, Netinho desejou: “Que este acontecimento dure pra sempre, porque o que nós podemos fazer é isso: música!”.
O show combinou com o clima do evento, um exemplo foi a “Vou Morar no Ar” e “Casa de Rock”. Mas, afinal, por que passar o carnaval no Psicodália? “Queria conhecer alguma coisa diferente do carnaval comum. O som é diferente do carnaval normal. Tem oficina de arte, muita música boa, o lugar é lindo e o pessoal tem cabeça aberta”, disse Renan Ferreira, de 21 anos, morador de Florianópolis.
Mais informações sobre o evento, pelo: www.psicodalia.mus.br.

* Trecho da música “Lar de Maravilhas”, da Casa das Máquinas.

Índios invadem a cidade!

visita ao Museu de Itajaí
publicado no Platéia: maio de 2007

Uma criança passa uniformizada e de mão dada com sua mãe, apressadamente. No rosto do menino, pinturas a guache feitas na escola. É dia 19 de abril. Entretanto, quando se deparam com um grupo, de cara limpa, mas com uma cor mais parda, vestidos com roupas doadas, coloridas, jeans e até camisa da seleção brasileira, alguns descalços, ou com tênis, ou chinelos; essa mãe, ironicamente, não pára para ouvir algumas palavras do Cacique Werá-Mirim. Talvez, a única oportunidade de escutar esse homem que, naquele momento, representava o povo lembrado todos os dias 19 de abril, na escola em que seu filho estuda.
Ela não pôde parar, talvez, para não perder o ônibus, ou a novela, mas muitos pararam para ouvir este homem que falava sobre o caos que está o mundo: “O homem não respeitou seu Criador, a natureza. Destruiu, fez fábricas e agora vai ter que raciocinar para ter ar puro e águas limpas de volta. Tem que plantar e repor o que destruiu”.
Neste dia, em Itajaí, cerca de 30 índios, da Aldeia Guarani Conquista, de Barra do Sul, perto de Araquari, estiveram em escolas, ruas, cantaram, dançaram, mas principalmente, conversaram sobre a realidade indígena em Santa Catarina. O Cacique falou sobre o problema da Educação, já que, quando não se tem uma terra, fica difícil a realização de projetos educativos, inclusive, a alfabetização no seu povo. São nove famílias e o Cacique disse que o prefeito de lá fala que não vai ter nada pro índios, “porque nunca teve nada de índio lá!”. Werá-Mirim falou da luta pela terra que é um elemento essencial para a agricultura e é usada de maneira coletiva, tanto que eles têm implantado as ervas medicinais dentro da aldeia. Na roda de conversa, esteve presente Clóvis Brighenti, do Conselho Indigenista Missionário, que aproveitou o momento para repassar algumas informações sobre a questão indígena. De acordo com dados do IBGE de 2000, Santa Catarina possuía mais de 14.500 índios, apenas 8 mil estão nas aldeias. Em relação às áreas indígenas demarcadas, Clóvis diz que não chega a 1% do território catarinense. No Brasil, são mais de 734 mil índios. Ele explicou os trâmites de demarcação de terras, pois ela se torna Patrimônio da União, sendo apenas usufruída pelos índios. Inclusive, disse que naquele dia, em Brasília, houve a assinatura da demarcação de terras para quatro tribos catarinenses: para os guaranis (Araçaí, entre Saudades e Cunhã Porã), e para três kaigangues (Aberlado Luz: Imbu), (Caiandão: Iruaçu) e (Seára: Pinhal).
Por todas essas questões legais é que o Cacique insiste na alfabetização de sua gente: “Eu sei lei e escrever o português, mas vai ter um dia que alguém vai ter que saber defender nosso povo e vai ter que saber entender as letras! Não temos um índio guarani formado na 8ª série!”, enfatiza.

Batucada na Páscoa

roda de tambores no Gaspar


batucada na Hercílio Luz
tambores e Museu
publicado no Platéia: maio de 2007
Era feriado de Páscoa e um barulho forte originado de povos guerreiros não aquietou a cidade, nem mesmo na Sexta-Feira Santa Católica. Os tambores de vários batuqueiros de Itajaí e vindos de Bombinhas, Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre rufaram pelas ruas, avenidas, escolas e museu. O esquenta foi com a oficina para a criançada do Caic e do Jovem Comunicador, no Centro Público de Economia Solidária. “Eu nunca tinha tocado. Queria comprar um tambor e tocar o dia todo”, falou Asprilla da Silva Santos, de 10 anos. Ele, entre outras crianças, teve o privilégio de aprender alguns toques com os baques e rebaques, ao lado de Eduardo Moore (do Jaé) e do mestre Chacon Viana.
O início oficial do “Nação do Maracatu Porto Rico – Oficina de Dança e Percussão”, com Mestre Chacon (responsável pela Nação Porto Rico, de Pernambuco que, no candomblé, é um Ogan Alabê, hierarquicamente, acima de um Pai de Santo) foi a partir da batucada em frente ao Museu Histórico, seguida de um debate com o Mestre, Fábio Beto de Oxun, Dona Marília Luíza da Silva e os professores Beto Severino, José Bento Rosa da Silva e Moacir da Costa, sobre o maracatu, manifestações culturais como o boi-de-mamão, a questão religiosa e as dificuldades da arte/religião ser manifestada em seu início na época da escravatura e até nos dias de hoje.
Talvez, muitas das pessoas presentes não tinham noção da forte ligação do maracatu com a religião que foi a mais falada pelo Mestre Chacon, já que o maracatu era um disfarce para que os africanos pudessem homenagear seus orixás, mesmo sendo em dias de santos católicos. “O nome maracatu só significa coisa que não presta!”, ele comenta, pois era assim que os senhores diziam quando viam os negros juntos, ou conversando, ou fazendo seus cortejos. O dançarino Beto de Oxum, da Nação Porto Rico, falou, também, das obrigações que devem ter para que o maracatu vá às ruas: “Temos que nos dedicar muito aos orixás, sem os orixás, a gente não é nada!”.
“Isto que estamos trazendo a Itajaí é fundamental: trabalhar com as diferenças!” e, antes de fazer uma discussão sobre esses temas numa cidade de uma região que a dizem européia, o professor José Bento evocou cinco entes passados, respondidos pelo “Presente” dos participantes: Odair Rosa da Silva (Tia Aloca), Manuel Martins dos Passos (que deu nome ao Núcleo Afro-descendente), Acácio Pereira (militante do Partido Comunista na década de 40), Tolentino Tibúrcio da Silva (festeiro da Festa do Rosário) e Firmino Alfredo Rosa (fundador do Clube Náutico Cruz e Souza). “Sem eles, nós não estaríamos fazendo esta discussão aqui!”, acredita Bento. E, durante o debate, Marília disse que, em Itajaí, há mais de 30 terreiros de umbanda e candomblé: “Eu me curei dentro da umbanda e, por isso, nela estou”, ela falou da manifestação religiosa que foi criada no Rio de Janeiro em 1908 e que é, justamente, a união do candomblé com o catolicismo.
Essas são apenas algumas das falas dessa noite, que certamente, quem entrou saiu com algo a mais. Desta maneira consciente, iniciaram as oficinas. Foram dias de muita música. Alfaias, gonguês, tarol, caixa, abe, xequerê, ganzá e atabaques, de região a região os nomes dos instrumentos mudam, mas o ritmo é o mesmo é o maracatu. E foi o de maracatu baque virado o ensinado nas oficinas. Como ensinou Chacon, este é totalmente de origem africana, o de baque solto é indígena e foi criado na mata. E, para acompanhar houve, também dança dos orixás. Nem tambores, nem corpos pararam. Os batuqueiros lavaram a alma.

domingo, 15 de novembro de 2009

Avaliação sobre Projeto do Gestar: Nossos Diferentes Linguajares

Ter feito este trabalho com estas crianças e adolescentes foi muito gratificante, pois as aulas ficaram bem dinâmicas e foi visível o envolvimento de todos. Desde o início, prestaram muita atenção nos diferentes jeitos de se falar, através da música, e fizeram lindas apresentações de teatro. Foi muito divertido a maneira como eles falavam o sotaque peixeiro. Houve também muitos gaúchos e nordestinos.
Na Feira de Curiosidade, os alunos e alunas explicaram que os linguajares são influenciados principalmente pela condição social da pessoa, pela região onde a pessoa mora e pela história. A cada pessoa que ia passando e ouvindo as falas dos moradores, as músicas e as explanações das meninas e dos meninos, mais eles iam ficando confiantes e esclarecedores. Outro ponto interessante foi a participação dos pais, sim, pais e mães. Eles prestigiaram seus filhos, fazendo perguntas e até comentando sobre o respeito que temos que ter pelas diferenças: “saber um pouco mais sobre diferentes culturas, línguas e sotaques. É muito importante que o aluno entenda que devemos respeitar as pessoas do jeito que elas são, do modo em que se dirigem a nós”, como falou a mãe de Gabriel: Elisangela.
Aproveito para agradecer aos meninos e meninas que vieram em muitas tardes antes do horário da aula, para podermos discutir sobre a Feira e para ver o que eles entendiam sobre o tema. Também aos professores, pais, supervisão, direção e Rafael, que foram nos prestigiar. E ao meu namorado Luis, que deu a maior força levando os equipamentos e me ajudando com a coleta de falas.

domingo, 8 de novembro de 2009

Um bate papo sobre o livro

as 8as no Mansueto

as 7as no Mansueto

o Wagner descolou um livro e mereceu

com a 503 e 504 no Antônio Ramos

a meninada da 501 e502 no Antônio Ramos

Na manhã desta sexta-feira (06), as 7as e 8as séries do Mansueto tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a escritora do “Vidas Separadas pelo Mar”, Sheila Ana Calgaro. O livro foi lido durante os meses de agosto, setembro e outubro, durante as aulas de Língua Portuguesa. E o ato de bater um papo com a escritora sobre as experiências durante a embarcação no Monkfish, sobre os pescadores e a arte de se escrever, certamente, ficará registrado na mente desses adolescentes e da própria escritora.

Que delícia saber um pouco mais sobre a Maria do Cais (figura importante na nossa cidade e tantas outras portuárias), Toureiro (um dos únicos pescadores que não é viciado pelo mar) e sobre a Zilda (uma das únicas mulheres de pescadores que embarcou).

Para Sheila, a grande lição aprendida foi a valorização destes profissionais tão comuns em nossa cidade pesqueira. Para os estudantes, foi importante conhecer um pouco mais sobre estes homens que, muitas vezes, são seus pais, tios e avós.

“Vidas Separadas pelo Mar” também foi lido pelas 5as séries do Antônio Ramos, em maio, junho e julho. A criançada pôde também trocar ideias com a escritora.

Espero que seja um dos diversos livros que eles venham a ler.

domingo, 25 de outubro de 2009

"Nossos Linguajares" apresenta diversidades linguísticas no Brasil



a meninada da 504
a diretora veio nos prestigiar
Júlia mostrando livro de Franklin Cascaes

Rodrigo explicando a influência da condição social

os pais prestigiaram




Então... Aconteceu a Feira da Curiosidade, no dia 24 de outubro, no Antônio Ramos. E foi lá que a 504 apresentou o trabalho “Nossos Linguajares”. Através de cartazes, áudios, vídeos, cordéis, livros, artesanato e de uma explicação redondinha, os alunos mostraram a quem foi visitar que os linguajares têm como influência as condições sociais, a história e a região onde a pessoa mora. A sala reunia também a 501 (História do Chocolate) e a 502 (Origem dos Números).

Inicialmente, Luis Felipe falou sobre as influências dos linguajares e um pouco sobre a história dos sotaques no Brasil. Luana, com alguns áudios (Carmen Miranda, Repórter Esso, cantiga de amigo, Moreira da Silva) e trecho do Jornal Itajahy (1884) mostrou que assim como a nossa língua é viva e está sempre em transformação, nossas falas também são. Inclusive, havia uma lista de gírias antigas e atuais.

O Rodrigo e Mateus mostraram que a condição social em que a pessoa vive acaba influenciando na sua fala. Também há a influência do lugar onde a pessoa trabalha, se mora na periferia ou numa classe nobre, se seus pais foram escolarizados ou não, qual o círculo de amizades, entre outros fatores. Os visitantes puderam ouvir o rap dos Racionais, o “Chopis Centis” do Mamonas Assassinas, as falas de um usuário de drogas, um pescador, uma jornalista e a de um morador do Nossa Senhora das Graças, popular Matador. Folhearam e se divertiram com o livro do seu Creyson e ver o dicionário dos surfistas. Os meninos deixaram claro que, mesmo que a pessoa tenha um jeito de falar “errado”, deve haver respeito, já que nem todos tiveram as mesmas oportunidades de estudo.

Gabriel mostrou que o linguajar também vem com o local de onde a pessoa nasceu, morou, ou até visitou. Havia áudios com músicas de cordel, Pampa Pobre (gaúcha), Cuitelinho (do interior de Mato Grosso), Sai Preguiça (Goiás), Papa Siri (Córea) e uma com um língua indígena de Rondônia (aqui já não se muda o linguajar, mas a própria música). Quem conversou com Gabriel pôde ver que dentro da nossa própria cidade há diversos sotaques, havia um italiano, alemão, japonês e português. Com a Mayra, estavam vários vídeos com pessoas de diversas regiões do Brasil, de Norte a Sul. Através da entonação e diferentes vocábulos, as diferenças eram constatadas.

A Júlia teve o livro de Franklin Cascaes (grande pesquisador da fala do povo da ilha catarinense), acompanhado do artesanato da minha cunhadinha Raquel (argila sobre folclore açoriano) e o dicionário Peixeiro. Também, na mesa, alguns cordéis que registram exatamente a fala do povo nordestino (região onde é muito forte o impresso) e o dicionário Pernambuquês. As meninas Maria Eduarda e Jéssica estavam com os dicionários do interior de São Paulo e o Mineiro, para quem quisesse matar a curiosidade, “uai, tchê!!”.

Durante esta manhã, os visitantes puderam constatar que os diferentes linguajares de nosso Brasil, tornam nossa cultura ainda muito mais rica. Parabéns a toda a galerinha e aos pais que prestigiaram. É bom registrar que não só nosso trabalho ficou lindo, mas os das outras turmas também!!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Recital de Cordel em Itajaí (Platéia.set.2008)

Cordel em Itajaí

Abdias Campos, o poeta cordelista, violeiro, ator declamador e cantador, aquele que participou da minissérie “A Pedra do Reino”, de Ariano Suassuna, apresentou “O Mundo Maravilhoso da Poesia de Cordel”, ao lado do violonista André Freitas, em umas das noites do Viapoesia – Circuito de Espetáculos da Palavra: evento promovido pelo SESC. Tudo aconteceu de 08 a 11 de agosto, no NEFA – Núcleo de Experimentos de Formas Animadas.
Quem esteve presente naquela noite colorida enfeitada por xilogravuras, com o sotaque e o som do sertão nordestino, certamente teve a oportunidade de conhecer um pouco sobre a história da literatura de cordel, que iniciou já na Idade Média, quando trovadores europeus divulgavam velhas histórias nas praças, em textos memorizados e cantados por cegos em troca de esmola. “Sua primeira feitura/ na Europa aconteceu/ Tipógrafos do anonimato/ Botaram o folheto seu/ Pra ser vendido na feira/ E assim se sucedeu/ Foi Portugal que lhe deu/ Este nome de cordel/ por ser vendido na feira/ Em cordões a pleno céu/ Histórias comuns, romances/ Produzidos a granel”, explica Abdias em um de seus cordéis. A cultura foi trazida ao Brasil no século XVII, com os colonos portugueses e espanhóis. Estas histórias eram decoradas por quem sabia ler, transmitida de forma oral e transformada pela memória do povo. E foi no Nordeste que, no Brasil, o cordel se iniciou, com os versos expostos nas feiras.
Para Abdias, o sertão nordestino é muito diferente daquele mostrado na televisão. “O sertão nordestino é muito lindo”. E foram alguns causos nordestinos que ele declamou, como o casamento de Maria do Mercado, com o Poeta de “Cordé”. Ele falou que toda pessoa que mora no sertão já nasce poeta: “somos descendentes de trovadores e índios” e ele cantou também sobre o feitio da poesia: “Alinha-se no papel/ em poesias espessas/ por muitas letras impressas/ na alma do escritor/ Desenrola carretel/ esses fios condutores/ para tecer os amores/ as musas descem do céu/ Entrecortando o papel/ com fios de inspiração/ numa movimentação de versos, rimas e clamas/ alinhavando pessoas/ na poetização/ Poeta de inspiração/ das subjetividades/ no entorno das cidades/ ou nos confins do sertão/ jeito de camaleão/ na transmutação das cores/ extraindo os olores/ dos versos que canta/ e faz como se fosse capaz/ de estimular os sabores”.
O Viapoesia trouxe a poesia declamada nas suas mais diversas formas. Houve também a oficina “Que coisa é essa, a poesia?”, com Cristiano Moreira, o Sarau Literário com o grupo CLAP; o espetáculo Trêmulo Corpo, com Ryana Gabech; e o TAMBAKA performance poética, com Ricardo Corona.
Então, o que deve ser poesia? Registro os versos de Abdias: “Poeta de coração/ ou coração de poeta/ Qual a maneira correta/ pra essa conceituação?/ Quem tentar achar razão/ para tal alegoria/ tem que ver o que não via/ no coração de quem sonha/ terá que dormir na fronha/ babada de poesia.”

Cordel na sala

xilogravuras

alguns dos cordelistas

xilogravurando.... é assim que se diz????


cordéis no cordão



muita dedicação




Cultura popular típica no Nordeste entra nas salas de alunos do Antônio Ramos e Mansueto Trés. A literatura de cordel foi trabalhada com meus alunos em agosto desse ano: mês do Folclore. Inicialmente, contei um pouco sobre a história do cordel, que iniciou já na Idade Média, quando trovadores europeus divulgavam velhas histórias nas praças, em textos memorizados e cantados por cegos em troca de esmola. O nome originou-se em Portugal, pois nas feiras os folhetos eram pendurados em barbantes. No Brasil, ele criou suas raízes no nordeste. Enquanto ficam expostos, é comum os violeiros chamarem a atenção da freguesia cantando seus causos acompanhados da viola.
Apresentei aos alunos também um dos cordelistas mais renomados do Brasil: Patativa do Assaré. Também puderam apreciar através de um vídeo a apresentação de Abdias Campos (Pedra do Reino), de agosto do ano passado, durante o Via Poesia, aqui em Itajaí.
Mas cordel não é só poesia, é também xilogravura. Algumas delas foram passadas de mão em mão. E a técnica feita na madeira também foi mostrada, através de gravuras. Mas a confecção de nossos cordéis foi com isopor.
Inicialmente, fizeram suas poesias, com muitas rimas. Já que era uma boa maneira para se expressarem, muitos falaram sobre os problemas sociais, drogas, enchente de novembro e até sobre a gripe suína que estava amedrontando a rapaziada na época. Entretanto, o tema que se sobressaiu foi o amor, com muitos corações xilogravados.
O resultado colorido e muito belo foi exposto no varal, para que as demais turmas pudessem também conhecer essa cultura popular.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A paz em zines

analisando outros zines

com a mão na massa

"essa galera era muito doida"


que brotem novos zineiros



Colagem, foto, informação, poesia e crítica. Tudo isso misturado à criatividade. Assim foram as oficinas de fanzine realizadas durante a manhã desta quarta-feira, no Mansueto Três. O tema foi PAZ. Na ocasião, aproveitei a oportunidade para levar os diversos materiais que tenho guardados no baú. Mesmo cheirando a mofo, e dando coceiras no nariz, eles me levam à saudosa época do curso de Jornalismo. Havia fanzines até das oficinas do ERECOM (Encontro Regional de Comunicação) que aconteceu na Univali em 98.
A criançada pôde manusear o Cuspe, o Zona Underground, Nervous Breakdown, o Nacaruda e o ... Alguns zines que circulavam na época pelos corredores da faculdade, ao som do violão dos meninos, que estavam sempre tirando um rock’n roll. A meninada do Bambuzal pôde ver que dá para se fazer uma comunicação mais alternativa sem se gastar muito. Quem sabe alguma dessas crianças alguém não se inspire a fazer um zine sobre sua banda favorita, esportes, poesia, ou sobre os problemas e atrativos de sua comunidade?
A paz foi manifestada através de globos azuis, sorrisos de crianças e abraços de família. Também foi demonstrada através da não-paz, com imagens de guerra e muita tristeza.
A conversa foi para que eles sejam seres pacíficos, não passivos. Seres que pregam pela paz de espírito, de consciência, sim. Mas seres que lutam por seus direitos e que sabem quais seus deveres. Temos que educar cidadãos que lutem pela paz, mas que não sejam passivos à corrupção, desrespeito à humanidade e à natureza. Seres que digam não à crueldade, à hipocrisia, à politicagem.
Enquanto faziam seus zines, um dos sons que rolou além do álbum “Na Paz”, de Fernanda Abreu; dizia assim “Se queres paz, te prepara para a guerra. Se não queres nada, descanse em paz”. Sim, Engenheiros do Havaí.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Divulgando nossos eventos, através de fôlderes
















O trabalho foi realizado com todas as 5as, no Antônio Ramos; e 7as e 8as, no Mansueto Três. Em ambas fiz sobre os eventos que serão realizados no mês de outubro: Feira da Curiosidade (Antônio Ramos) e Noite das Estrelas (Mansueto). Inicialmente, passaram uma aula podendo manusear diversos fôlderes ligados às mais variadas áreas, principalmente à cultura: encontros universitários, festivais de música, fórum cultural mundial, festival de teatro, pontos de cultura, artistas plásticos, encontros de ciclistas etc.
Após houve uma conversa para observarmos o que eles têm em comum e o que vem a ser um folder. Foram discutidas as informações fundamentais para a confecção de um ligado a algum evento: local, data, horário, o que é, programação e imagens. Num outro momento, houve uma conversa dos alunos com alguém ligado à história dos eventos. No Mansueto, com a orientadora Bete; e no Antônio Ramos, com o orientador Júlio. Desta maneira, eles conheceram um pouco sobre a história destes eventos escolares e obtiveram informações que poderiam ser acrescentadas em seus materiais.
Antes da confecção, selecionei os critérios de avaliação: pontualidade, respeito ao grupo, linguagem e imagem adequadas, criatividade e informações necessárias.
Acredito que tenha sido um trabalho muito gostoso para todas as turmas. O resultado surpreendeu tanto a mim quanto a eles. Alguns chegaram a fazer no computador, outros colocaram até o mapa para se chegar à escola. Interessante também foram as maneiras como foram dobrados ou recortados os fôlderes. É uma boa sugestão para as demais colegas, pois muitas qualidades foram extravasadas.

domingo, 28 de junho de 2009

Um mergulho na Terra do Nunca


Quem nunca, por um dia ou até mais vezes desejou ser eternamente criança? Quem nunca teve vontade de aspirar o pó pirlimpimpim para sair voando? Ou visitar a Terra do Nunca, habitada por fadas, piratas e meninos perdidos? Certamente, muitos de nós já tivemos estas vontades.
Acredito que seja muito interessante as crianças terem contato com a história de James M. Barrie: Peter Pan. Entretanto, quando formos levá-la à sala de aula, seria mais rico levar a história original, ou alguma adaptação que não seja tão superficial. Pois há características de algumas personagens muito importantes para serem analisadas, como o ciúme de Sininho, e até o dilema de Peter Pan em deixar de ser criança para sempre, por ter se apaixonado por Wendy. Outros detalhes também poderiam ser levados em conta: será justo tirar uma criança do convívio familiar, como os meninos perdidos? Ou, analisar o olhar do pai em Wendy, por ela ser uma sonhadora e gostar histórias. Pois, de uma hora para outra, ele queria impor à menina a condição de “mocinha”. Como é essa passagem na vida de nossos jovens, principalmente, das adolescentes?
Também, poderíamos questionar a eles, como seria a Terra do Nunca, se seria um mundo repleto de fadas, natureza praticamente intocável? O que eles gostariam de acrescentar neste mundo? E a Sininho? Se ela é uma fada, não deveria ser boa e logo aceitar a nova amiga de Peter? Os seres humanos são completamente bons ou malvados? Quais poderes você gostaria de ter? Conforme diz a especialista em psicopedagogia, Andrea Pires Magnanelli, o resgate da magia da leitura dos contos de fadas pode não ser a solução dos problemas mundiais, mas podem atuar no inconsciente das crianças, fazendo-as compreenderem ou eliminarem os conflitos que possam estar passando no momento em que entram em contato com estas leituras.
E a grande fantasia da história: será que nossos alunos gostariam de ser crianças para sempre? Por quais razões? Quais as grandes diferenças de se ser um adulto e uma criança?
Para serem discutidas estas questões, acredito que seja primordial a escolha de uma boa tradução ou adaptação. Se possível, até haver uma comparação na leitura de mais de um texto sobre o mesmo conto. Basta observar a da Editora Brasileira, que foi muito superficial, pois apenas jogou ao lado das ilustrações alguns acontecimentos da história, sem qualquer aprofundamento das personagens.
Já uma adaptação que achei interessante foi a de Monteiro Lobato, pois temos a Dona Benta que a conta às crianças o livro em inglês que ela encomendara da Livraria de São Paulo. Inclusive, há a discussão das crianças sobre o livro e até a tradução de algumas palavras inglesas, como o quarto infantil, chamado de “nursery”. Há também alguns termos preconceituosos de Emília, em relação à tia Nastácia que podemos debater com os alunos, levando em conta que o texto foi produzido há décadas: Você só entende de cebolas e alhos e vinagres e toicinhos. Está claro que não poderia nunca ter visto uma fada porque elas não aparecem para gente preta. Eu, se fosse Peter Pan, enganava Wendy dizendo que uma fada morre sempre que vê uma negra beiçuda.” A própria adaptação poderia ter sido amenizada, mas não. E acabou sendo rica para uma análise com a turma. Assim como diz Magnanelli, não devemos mudar uma história, para ser “politicamente correto”, porque ele acaba perdendo muito de sua essência.