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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

CARTA DE UMA PROFESSORA

Bem, tento muito não entrar na cena política neste blog que está dedicado à educação. Entretanto, é quase impossível, pois tudo gira em torno dela. Ainda mais que as escolas em que trabalhamos dependem de políticos.
Esta carta ao prefeito de Itajaí é da professora de Artes Silvana Rocha...


“Me deves respeito,
Pelo menos dinheiro”

Da música Kriptônia de Zé Ramalho

Continuando a carta da Valéria (magra do teatro)...

Utilizando este meio não tão arcaico, mas já ultrapassado na era do email: a carta.

Escrevo aqui esta carta aberta a quem interessar possa; ler uma reflexão que escrevo como professora da rede pública municipal de Itajaí ao prefeito Jandir Beline.

Sou professora de arte numa unidade da rede que trabalha com alunos no contra turno escolar, ali eles estão no período contrário da escola para as oficinas de arte, Ed física/xadrez, “reforço” de português e matemática, almoço, lanche, além de outras atividades... Assim a escola acaba o serviço que os pais começaram, buscando não só o ensino, mas uma educação integral que a família do século 21 não pode mais oferecer. Nós professores somos entusiastas e utópicos por natureza (quem não o é talvez deva repensar na sua vocação), acreditamos na educação até quando atravessamos o deserto mais hostil, mais abandonado. Acreditamos na poesia e no pão, e fazer educação aqui, é esculpir mármore com garfo do um e noventa e nove.

A disciplina de artes, que escrevo aqui como meu oficio há 23 anos (felizes), nunca foi a mais privilegiada, seguindo os moldes do colonialismo burguês: Artes???Tu só fazes isto?Só desenhas? Só pintas? Que vida boa!...(gostaria de desenhar esta cena), ainda que ouvisse na escola, quando o aluno não tinha nota, não porque tirava nota baixa, mas porque não entregava nenhum trabalho, a diretora ironicamente perguntava: Professora, ele não sabe fazer boneco palito????Hoje adquirimos um pouco... Um pouquinho mais de respeito, mas ainda desenhamos com o dedo no ar e imaginamos figuras nas nuvens em céu de brigadeiro, porque o meio que são os materiais não chega à escola.

NÃO HÁ MATERIAL PROFESSORA!

Resta-nos contar história, da arte. (que não é nada mal) mas não é o essencial, arte plástica tem a origem da manipulação de materiais, alterar sua química, sua física, sua plasticidade e assim expressar-se, comunicar.

Então tento explicar aos meus alunos, que PAGUEI este material, entre tantos ISS, INSS, ICMS, IPTU, até naqueles chicletes de sessenta centavos tem um lápis embutido que eu não pude ceder ao meu aluno (jamais dar, tem que devolver!), porque eu não o tinha!Meus direitos e dos meus alunos, de seus familiares e de muitos profissionais da educação, são as sombras da caverna de Platão, que a verdade não é real. Portanto Senhor Prefeito, deves respeito, pelo menos dinheiro a todos que acreditaram em você, a mim não deves nada, pois continuo esperando o material e a consciência política na minha escola utópica no limite entre a miséria e civilização. Onde o mundo se esqueceu dele mesmo.

Em tempo, nas minhas escolhas profissionais, sou de forma “filiada” a duas pastas do seu secretariado que hoje estão mais depredadas, a cultura e a educação, não desmerecendo as outras, considero as mais importantes além destas, a saúde, mas fique tranqüilo tenho plano de saúde.

Tenho escrito.

Prof. Ma. Silvana Maria da Rocha

Artista Plástica e Professora de arte

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Rubia