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domingo, 29 de novembro de 2009

Batucada na Páscoa

roda de tambores no Gaspar


batucada na Hercílio Luz
tambores e Museu
publicado no Platéia: maio de 2007
Era feriado de Páscoa e um barulho forte originado de povos guerreiros não aquietou a cidade, nem mesmo na Sexta-Feira Santa Católica. Os tambores de vários batuqueiros de Itajaí e vindos de Bombinhas, Florianópolis, Curitiba e Porto Alegre rufaram pelas ruas, avenidas, escolas e museu. O esquenta foi com a oficina para a criançada do Caic e do Jovem Comunicador, no Centro Público de Economia Solidária. “Eu nunca tinha tocado. Queria comprar um tambor e tocar o dia todo”, falou Asprilla da Silva Santos, de 10 anos. Ele, entre outras crianças, teve o privilégio de aprender alguns toques com os baques e rebaques, ao lado de Eduardo Moore (do Jaé) e do mestre Chacon Viana.
O início oficial do “Nação do Maracatu Porto Rico – Oficina de Dança e Percussão”, com Mestre Chacon (responsável pela Nação Porto Rico, de Pernambuco que, no candomblé, é um Ogan Alabê, hierarquicamente, acima de um Pai de Santo) foi a partir da batucada em frente ao Museu Histórico, seguida de um debate com o Mestre, Fábio Beto de Oxun, Dona Marília Luíza da Silva e os professores Beto Severino, José Bento Rosa da Silva e Moacir da Costa, sobre o maracatu, manifestações culturais como o boi-de-mamão, a questão religiosa e as dificuldades da arte/religião ser manifestada em seu início na época da escravatura e até nos dias de hoje.
Talvez, muitas das pessoas presentes não tinham noção da forte ligação do maracatu com a religião que foi a mais falada pelo Mestre Chacon, já que o maracatu era um disfarce para que os africanos pudessem homenagear seus orixás, mesmo sendo em dias de santos católicos. “O nome maracatu só significa coisa que não presta!”, ele comenta, pois era assim que os senhores diziam quando viam os negros juntos, ou conversando, ou fazendo seus cortejos. O dançarino Beto de Oxum, da Nação Porto Rico, falou, também, das obrigações que devem ter para que o maracatu vá às ruas: “Temos que nos dedicar muito aos orixás, sem os orixás, a gente não é nada!”.
“Isto que estamos trazendo a Itajaí é fundamental: trabalhar com as diferenças!” e, antes de fazer uma discussão sobre esses temas numa cidade de uma região que a dizem européia, o professor José Bento evocou cinco entes passados, respondidos pelo “Presente” dos participantes: Odair Rosa da Silva (Tia Aloca), Manuel Martins dos Passos (que deu nome ao Núcleo Afro-descendente), Acácio Pereira (militante do Partido Comunista na década de 40), Tolentino Tibúrcio da Silva (festeiro da Festa do Rosário) e Firmino Alfredo Rosa (fundador do Clube Náutico Cruz e Souza). “Sem eles, nós não estaríamos fazendo esta discussão aqui!”, acredita Bento. E, durante o debate, Marília disse que, em Itajaí, há mais de 30 terreiros de umbanda e candomblé: “Eu me curei dentro da umbanda e, por isso, nela estou”, ela falou da manifestação religiosa que foi criada no Rio de Janeiro em 1908 e que é, justamente, a união do candomblé com o catolicismo.
Essas são apenas algumas das falas dessa noite, que certamente, quem entrou saiu com algo a mais. Desta maneira consciente, iniciaram as oficinas. Foram dias de muita música. Alfaias, gonguês, tarol, caixa, abe, xequerê, ganzá e atabaques, de região a região os nomes dos instrumentos mudam, mas o ritmo é o mesmo é o maracatu. E foi o de maracatu baque virado o ensinado nas oficinas. Como ensinou Chacon, este é totalmente de origem africana, o de baque solto é indígena e foi criado na mata. E, para acompanhar houve, também dança dos orixás. Nem tambores, nem corpos pararam. Os batuqueiros lavaram a alma.

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