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domingo, 29 de novembro de 2009

Sincretismo no São João

cortejo

tambores na igreja

publicado no Platéia: novembro de 2007

A santa que carrega o menino é levada por quatro homens pela rua que acompanham o cortejo. Muitos e muitas, vestidos de branco e outros e outras, com roupas coloridas. Senhoras carregam a bandeira que diz: “Santa Maria Mãe de Jesus”. Duas moças, as coroas do rei e da rainha, seguidas por meninos e meninas e pelas princesas. Neste caminhar, também está o grupo Catumbi, que há mais de dois séculos comemora a festa, em Itapocu, no município de Araquari. Os homens vestidos de branco e azul levavam suas espadas, com seu cantar e tocar. O Jaé caminhava com o seu maracatu, alfaias, gonguês e dança. O canto, a dança e as cabeças erguidas foram em busca de Laerte Matos e Fabiana Gama: futuro rei e futura rainha, acompanhados de seus conselheiros. Ao encontrá-los, seguiram até a igreja. Quem andava pela rua, talvez, não entendesse o que se sucedia. Um homem soltava fogos, em comemoração à Festa da Nossa do Rosário: uma das festas que descende dos africanos que foram arrancados de suas terras para serem escravos no nosso Brasil.
Esse domingo era dia de festa, porque era dia de coroação do rei e da rainha. E tudo aconteceu dentro da igreja de São João. Sim, dentro de uma igreja católica, que há tempos proibia os cultos desses negros.
O rei, rainha e as crianças subiram ao altar, recebidos pelo padre e posicionaram-se bem abaixo da cruz. Nos primeiros bancos da igreja sentaram-se os conselheiros e conselheiras, vestidos de azul, com detalhes branco e rosa. A música também entrou com o Catumbi. E a missa iniciou, da maneira católica, mas com o colorido do povo africano. O sincretismo estava diante dos olhos dos presentes. No momento das oferendas, entram a pá e a concha que simbolizam a comida, nas mãos de Maria da Paz da Silva Benedito; a capoeira do muzanza, com Luis Marcelino; e a música através da batucada e dança do maracatu do Jaé. As escadas do altar ficaram repletas de tambores, enquanto o Padre Henrique celebrou a Santa Ceia, com vinho, hóstia e a participação de todos com a comunhão. Ainda antes da coroação, o professor José Bento Rosa da Silva aproveitou para falar sobre a história da Festa que foi difundida na África pelos dominicanos e chegou ao Brasil no século XVI, com os africanos escravizados.
A Festa do Rosário ocorre praticamente em todo o Brasil e está vinculada às populações de origem africana e aos grupos negros que realizam os autos populares conhecidos por Congada, Congado ou Congos. Em Itajaí, ocorreu pela primeira vez em 1992, na Igreja de São João até 1996. Entretanto, tem-se notícia da bandeira do Rosário, já no século 18, em que ela percorria várias localidades e concentrava-se na Penha, que pertencia a Itajaí. “Antes tinha um âmbito maior. Onde a bandeira passava, as pessoas iam até lá visitar”, diz Bento. Já a partir de 1998, a festa em Itajaí reveza-se entre as igrejas dos bairros de Cordeiros, Vila Operária e São João.
O momento mais esperado chegou ao final da manhã. Agora, o rei e a rainha estavam coroados. Na coroa do rei, a machadinha de Xangô. Na da rainha, o símbolo de Yemanjá.
Como é de praxe, o casal do próximo ano já foi escolhido. “Não precisam ser negros, mas devem estar envolvidos na luta.” E, para fechar a Festa, todos foram convidados para o almoço bem ao lado da igreja. Essa festa foi no dia 21 de outubro. Mas esta data não é fixa. Conforme disse Rosa de Borba Travasso, em 1997, na época, com 87 anos: “Era no dia 7 de outubro”. Mas, por chover muito, mudaram para dezembro. Então, ela varia de lugar para lugar.

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