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domingo, 29 de novembro de 2009

Índios invadem a cidade!

visita ao Museu de Itajaí
publicado no Platéia: maio de 2007

Uma criança passa uniformizada e de mão dada com sua mãe, apressadamente. No rosto do menino, pinturas a guache feitas na escola. É dia 19 de abril. Entretanto, quando se deparam com um grupo, de cara limpa, mas com uma cor mais parda, vestidos com roupas doadas, coloridas, jeans e até camisa da seleção brasileira, alguns descalços, ou com tênis, ou chinelos; essa mãe, ironicamente, não pára para ouvir algumas palavras do Cacique Werá-Mirim. Talvez, a única oportunidade de escutar esse homem que, naquele momento, representava o povo lembrado todos os dias 19 de abril, na escola em que seu filho estuda.
Ela não pôde parar, talvez, para não perder o ônibus, ou a novela, mas muitos pararam para ouvir este homem que falava sobre o caos que está o mundo: “O homem não respeitou seu Criador, a natureza. Destruiu, fez fábricas e agora vai ter que raciocinar para ter ar puro e águas limpas de volta. Tem que plantar e repor o que destruiu”.
Neste dia, em Itajaí, cerca de 30 índios, da Aldeia Guarani Conquista, de Barra do Sul, perto de Araquari, estiveram em escolas, ruas, cantaram, dançaram, mas principalmente, conversaram sobre a realidade indígena em Santa Catarina. O Cacique falou sobre o problema da Educação, já que, quando não se tem uma terra, fica difícil a realização de projetos educativos, inclusive, a alfabetização no seu povo. São nove famílias e o Cacique disse que o prefeito de lá fala que não vai ter nada pro índios, “porque nunca teve nada de índio lá!”. Werá-Mirim falou da luta pela terra que é um elemento essencial para a agricultura e é usada de maneira coletiva, tanto que eles têm implantado as ervas medicinais dentro da aldeia. Na roda de conversa, esteve presente Clóvis Brighenti, do Conselho Indigenista Missionário, que aproveitou o momento para repassar algumas informações sobre a questão indígena. De acordo com dados do IBGE de 2000, Santa Catarina possuía mais de 14.500 índios, apenas 8 mil estão nas aldeias. Em relação às áreas indígenas demarcadas, Clóvis diz que não chega a 1% do território catarinense. No Brasil, são mais de 734 mil índios. Ele explicou os trâmites de demarcação de terras, pois ela se torna Patrimônio da União, sendo apenas usufruída pelos índios. Inclusive, disse que naquele dia, em Brasília, houve a assinatura da demarcação de terras para quatro tribos catarinenses: para os guaranis (Araçaí, entre Saudades e Cunhã Porã), e para três kaigangues (Aberlado Luz: Imbu), (Caiandão: Iruaçu) e (Seára: Pinhal).
Por todas essas questões legais é que o Cacique insiste na alfabetização de sua gente: “Eu sei lei e escrever o português, mas vai ter um dia que alguém vai ter que saber defender nosso povo e vai ter que saber entender as letras! Não temos um índio guarani formado na 8ª série!”, enfatiza.

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Rubia